O Amplificador e o Palco alguns anos depois...

Em 2013 escrevi uma coluna entitulada o amplificador e o palco, dando dicas de posicionamento de amplificador em situações distintas.   Antes de ler essa nova coluna recomendo uma lida na anterior no link abaixo: 

http://www.gutovighi.com.br/2013/09/dicas-de-palco-o-amplificador-e-o-palco.html

Meus conceitos de posicionamento de ampli basicamente continuam similares, mas vivi e pesquisei mais algumas situações, que acho que podem ajudar os músicos que estão rodando por aí em situações parecidas... 

A vida inteira torci o nariz pro tal do "fone" quando inventavam isso nos lugares que ia tocar, sempre fui avesso a guitarra na linha, fone da casa que sempre some no meio do show,  e uso de fone no palco, porem algumas coisas sempre me incomodaram na situação de palco de gig com estrutura limitada. 

A primeira, é a eterna briga com tecnicos de som mandando abaixar o volume da guitarra, e em se tratando de valvulado, eu não uso no talo mas tem um volume minimo para que o timbre seja descente, tanto que sempre tive amplis de diferentes potencias pra tentar me adequar ao headoroom necessitado nos palcos... 

A segunda, com o passar dos anos na minha gig atual fui dando mais importancia a cantar backing vocals, e é bem comum encontrar situações, com pouca passagem e som limitado onde se ouvir no palco é complicadissimo, consequentemente afinar tambem... 

A terceira, é que sempre quis ter a possibilidade de uso de instrumentos acusticos no set, e realmente a situação que consegui no artigo anterior de 2 conjuntos completos de amplificador  um pra eletrico e outro pra acustico é bem pouco pratica de se levar por aí...

A quarta foi num belo dia num show no interior chegar numa casa onde o técnico me disse que era proibido usar amplificador de guitarra....

Essas situações, somadas foram me deixando com vontade de achar novas possibilidades...

Sempre usei fone em casa para poder estudar de madrugada, com pedaleiras de saida emulada, ou softwares tipo ampli tube, que me geraram resultados interessantes como o dos links a seguir , mas nunca consegui reproduzir mais fielmente meu timbre de set de pedais e ampli com esses sistemas...  

isso por exemplo é um resultado de guitarra direto no amplitube 2: 



Isso é exemplo de resultado de pedal de fuzz ligado num sansamp gt2 direto na linha: 



Na minha opinião bons resultados de timbre, porem dificil reproduzir um resultado que eu teria ao vivo. 

Uma luz se abriu quando meu amigo e parceiro Augusto Pedrone me mandou para testes há 2 anos atras um head chamado Titan, ampli pequeno e portátil de8w com varias possibilidades de equalização,  e eu meio que sem querer por praticidade vi uma saida de linha no aparelho e resolvi testá-la   ligado direto na mesa de som.  O resultado obtido guitarra - ampli  me soou surpreendentemente organico, segue o sample gravado nessa ocasião: 




A partir desse teste, liguei meu board no equipamento, e consegui um resultado que me agradou bastante, principalmente, no country, aqui vale um parentese, no country pra mim é importante ter o setup do ampli clean, de tal forma que eu consiga jogar um boost  e ter aumento de volume sem aumento de saturação, varias vezes pra suprir o headroom necessário no palco acabei tendo que usar o master do ampli mais próximo ao breakpoint, e o boost nessas situações acabava sujando o timbre e não aumentando volume, isso pode ser considerado mais um item pra mim de problema daquela lista acima... 

Comecei a usar esse setup direto para estudar e gravar em casa, e realmente fiquei satisfeito com o resultado obtido: (o proximo video foi gravado com meu setup de pedais no titan - na mesa) 
  



Então foi uma questão de criar coragem pra usar isso ao vivo, testei num show onde tinha uma otima monitoração a qual eu já conhecia bem, tempo de passagem, levei o cabeçote o gabinete, reforcei na monitoração  e consegui um bom resultado, ao vivo, me ouvindo tanto na monitoração somada ao ampli de baixa potencial ligado atras de mim.  Isso abaixou um pouco o volume de palco geral da banda o que é saudável. 

O passo seguinte era poder ter esse resultado numa condição mais complicada, com pouca monitoração da casa por exemplo, então levei a minha mesa phonic de 12 canais usando no mesmo esquema que sempre usei para estudo,  utilizando uma extensão de fone de ouvido e gerando minha propria monitoração. 




Novamente, o resultado me agradou, num palco grande consegui me mexer no palco tendo sempre o mesmo volume de guitarra confortavel em qq lugar,  achei a saida de linha pro PA muito mais simples de lidar do que a microfonação, pois ela não apresenta variaveis.  Como meu volume de palco baixou os tecnicos começaram a ser mais generosos com a guitarra no P.A., por incrivel que pareça. E ja que eu tinha uma mesa na mão, resolvi passar minha voz e jogar na minha monitoração antes de mandar pro técnico,... "milagrosamente" comecei a me ouvir... 

Desde então nos ultimos anos 99% dos shows que fiz nos ultimos ano e meio foi com esse sistema auto-suficiente de monitoração, testando muitas possibilidades... 

Como eu tinha canais na mão a disposição, testei os instrumentos, acusticos, e o resultado foi excelente, a mesa serve de pré, consigo monitorar para mim os volumes separados, da voz e dos demais instrumentos de corda que eu usar, inclusive normalmente ja os mando mixados num canal só pra casa, assim eu tenho o controle da relação de volumes, por exemplo entre guitarra e piezo ou guitarra em mandolin... 

Esse é o resultado obtido num desses testes com um mandolin ligado a mesa, sistema de fone, e realmente ficou confortavel utilizar os instrumentos acusticos no palco.


Meu conforto com o resultado desse sistema é tamanho nesse momento que estou gravando meu disco autoral e captando a guitarra, dessa forma, no ultimo mês gravamos o DVD da A Kavalarya (uma das bandas com as quais toco atualmente) e o som dos meus instrumentos todos foi captado em linha. (Estou mixando agora e não sinto falta de som de ampli microfonado no resultado do trabalho). 

Entre as possibilidade que testei de simuladores de falantes, uma delas com bom resultado foi esse DI da MAXZ Pedals, um pedal ligado entre head e cabinet, cujo resultado foi muito bom tambem, 



 Existem vários equipos dessa natureza no mercado, (ada, boogie, palmer, behringer, etc...) me lembro de ter visto a primeira vez num rundown do Def Leppard (pra mim Phil Collen  sempre teve um baita som de guitarra independentemente do estilo) e ficar com a pulga atrás da orelha deles estarem usando isso como som de guitarra no PA). 

Basicamente a diferença maior entre eles é que alguns mais complexos permitem que  liguemos  o head diretamente neles sem precisar ligar em caixas (isso exige um circuito que "dissipe" a saida que via pro falante para que o cabeçote ouampli não queime, outros mais simples precisam que o cabeçote esteja ligado no amplificador, pois não tem esse recurso... 

Fiz shows com apenas o head sem caixa, com apenas o 5W ligado num gabinete, e recentemente ainda testei um sistema com 2 heads, onde o titan servia pra fone e PA sem caixa, e o outro head um superclean de 50W empurrava o gabinete que gerava a soma de palco,  esse até então foi meu resultado preferido, porem já não tanto pratico para transporte e montagem, 

   
Alguns fatos que acho importante compartilhar,  o conforto no palco pra mim aumentou muito, em locais onde o som costumava ser embolado não sinto mais tanto problema, aumento muito o conforto do retorno de voz.  como ja citado, baixou o volume geral de palco... 

Aqui vale um ponto a parte na questão dos retornos, fones e etc... 

Testei alguns fones, e o que me adaptei melhor foram fones simples do tipo normais de aparelhos portateis, procurei os com resposta mais transparente com relação a médios (nos quais o timbre da guitarra me agradasse mais) , usei um aiwa, e um outro que veio num mp3 player, eles funcionaram melhor do que os tipos The Plug da koss que tem vedação, a não vedação faz com que se ouça bastante vazamento do resto do palco, eu tenho possibilidade de ter uma via da casa mixada com os demais instrumentos, mas só uso esse recurso em palcos grandes, nos pequenos a própria sobra dos sides, monitores de chão e proprio volume de palco já me dão referencia necessária do resto da banda.  

O fone também age com uma especie de tampão segurando algumas frequências muito util ainda mais quando se toca perto da bateria.  Era comum eu sair do palco com ouvido zumbindo ao final de show, hoje não mais, mesmo usando o fone alto. 

2 situações desse resultado ao vivo bem distintas, aqui apenas usando o Head, sem gabinete, (obviamente nem tudo é perfeito ainda ficamos a merce do tecnico para definir o volume da guitarra na frente)  ainda, mais nessa configuração onde não existe soma de palco: 

  


Numa situação de gravação de programa de TV onde não existe a possibilidade de ligar amplificador e microfonar.  




Por Fim, deixo o esquema de ligação que ando usando atualmente, para quem se interessar em tentar trabalhar dessa forma. 

possibilidade 1 (head direto em linha):

Guitarra - pedaleira - input do titan - saida de linha do titan - input canal da mesa. 

microfone de voz - input segundo canal da mesa. 

instrumento acustico - processador - input terceiro canal da mesa. 

se vier algum sinal de linha da casa, ligo no canal seguinte da mesa. 

As mandadas para a casa, são feitas via saidas auxiliares da mesa,  1 para instrumentos (mixados por mim)  outra para voz. 

obs: não uso a saida master da mesa, dessa forma uso os controles de master para controlar a minha monitoração e os de auxiliar pras mandadas da casa, assim tenho os 2 sinais controlados de forma independente, posso mexer na minha relação de de volume dosinstrumentos, sem afetar a mandada já pre definida da casa. 

obs: para simplificar a vida botei um direct duplo que transforma as saidas p10 dos auxiliares da mesa em xlr, que normalmente são os cabos já disponíveis no palco...  

Nessa possibilidade ainda posso adicionar um speaker cable no amp  e liga-lo numa caixa, para usar como reforço de palco. 

possibilidade 2: 2 amps:  

O sinal é semelhante até guitarra e pedaleira, mas eu splito ele com um pedal A+B no final da pedaleira, mando um lado para o sistema da mesa, e o outro para o amplificador da casa, ou o segundo amplificador que eu usar para soma do palco. as demais ligações são semelhantes.

Já experimentei inclusive microfonar esse segundo ampli jogar na mesa,  abrir a monitoração em stereo, mas achei muita complicação para pouco resultado efetivo.

É isso, meus testes continuam, a intenção atual é conseguir portabilizar mais esse setup, e diminuir as ligações a serem feita no palco, eu hoje levo em torno de 10 min pra montar isso com a vantagem que como sempre uso os mesmos canais, não preciso mais passar som, uma vez tudo ligado o som está sempre já pronto e passado na minha orelha, (salvo palcos grandes sem side onde eu tenha que passar a linha da volta da casa com o resto dos instrumentos... )

Espero ter aberto possibilidades a todos, e fico a disposição para quem tiver dúvidas...   

Abraços e até a próxima !



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